Análise do discurso do presidente lula na onu
O discurso do Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2025, foi marcado por uma continuidade de cobranças pelo multilateralismo, pela paz e prosperidade.
POLÍTICAINTERNACIONAL
11/6/20255 min ler


A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) constitui o mais amplo espaço de diálogo político multilateral do mundo, reunindo todos os Estados-membros para debater os principais desafios globais. Por tradição desde 1947, o Brasil é o primeiro país a discursar na abertura do Debate Geral. O discurso é seguido pelos Estados Unidos, país-sede da organização e depois pelos outros países de forma a depender da organização da edição. Em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ocupar esse espaço após mais de uma década, em um momento marcado pela necessidade de reposicionar o Brasil no cenário internacional. O discurso de Lula não apenas reafirmou compromissos históricos da política externa brasileira, como também sinalizou novos rumos para a diplomacia do país.
O discurso do Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2025, foi marcado por uma continuidade de cobranças pelo multilateralismo, pela paz e prosperidade. Ele começa o discurso dizendo que os ideias que motivaram a criação da ONU, no pós-Segunda Guerra, estão ameaçadas, se referindo ao fato da ONU estar com a autoridade em “cheque”, isso porque muitos não veem mais a organização como uma ferramenta que estaria a disposição de resolver os conflitos pelo globo de forma pacífica e multilateral. Os interesses da ONU, não são mais o interesse geral, mas correspondem “as conceções à política do poder”. O presidente continua o discurso dizendo que esse enfraquecimento é causado pelo unilateralismo, e que a crise do multilateralismo tem relação direta com as crises das democracias pelo globo. Nesse primeiro momento, Lula fala sobre como o autoritarismo é responsável por essa crise que ameaça as instituições democráticas e tenta, por meio da violência, se perpetuar. Claramente, abre o discurso tocando em 2 pontos importantes: 1- a falência da Organização das Nações Unidas diante a tantos conflitos pelo globo; 2- os acontecimentos do 8 de janeiro de 2023, no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 7 réus foram condenados pelo STF por tentativa de golpe de Estado. O presidente foca nessa defesa das Instituições brasileiras, pois alguns atores internacionais, como o Presidente Trump, têm deslegitimado elas. Assim, Lula consegue falar sobre uma das pautas mais importantes para o Brasil: a luta por uma soberania e pela democracia; que é, também, uma pauta cara para outros países presentes na Assembleia, que estão vivendo situações parecidas em seus territórios.
Lula continua falando sobre democracia, mas agora dando ênfase na luta contra a pobreza e desigualdades sociais. Ele discursa sobre a necessidade de lutar por uma democracia justa que não falhe com as mulheres – cita especificamente as diferenças salariais e violências contra mulheres, por uma democracia que não falhe com os imigrantes, ao fechar as portas e culpá-los por mazelas do mundo. Lula deixa claro que um país democratico é um país que luta para acabar com as desigualdades sociais, que todos tenham o direito à saúde, à moradia, ao trabalho, e especialmente a alimentação. O presidente cita a FAO, para dizer que recebeu da organização um relatório afirmando que o Brasil saiu do Mapa da Fome em 2025 (feito que havia ocorrido nos primeiro governos Lula, mas que não foi continuado por outros presidentes), um feito importantíssimo para o país, mas que ele reiterou ser importante a luta contra fome ser global, pois de acordo com o presidente ainda existem “670 milhões de pessoas famintas, e cerca de 2,3 bilhões enfrentam insegurança alimentar”. Ele cita o comprismo global de combate à fome, uma pauta inclusive fomentada durante o G20 no Brasil no ano passado. Lula reitera que o compromisso dos países deve ser diminuir gastos militares e fazer todo possível para que os países em desenvolvimentos – nesse momento ele cita o continente africano – recebam ajuda necessária para que o mundo se torne mais igualitário, e para reforçar ainda mais pauta ele cita que a taxação dos super ricos é um começo para isso.
Lula volta a dizer que um país democrata não pode permitir que misoginia e xenofobia sejam permitidos, e cita a questão da internet, e que apesar dela ter trazido coisas magníficas, o discurso de ódio e fake news propagados pelas redes sociais deve ser regulado. Ele fala sobre a regulação não ser uma forma de censura da liberdade mas sim uma forma de punir crimes que já são punidos na vida real que sejam cometidos na internet. Ele volta a falar sobre multilateralismo no acordo aprovado pelos países, o pacto global digital, e deixa claro que a inteligência artificial deve ser usada com responsabilidade e de forma legal.
O presidente apresenta preocupação com as atuais tentativas de transformar a América Latina em um território de conflitos ao tentar equiparar criminalidade e terrorismo, para assim justificar possíveis invasões de países como os Estados Unidos. Reitera que a forma mais eficaz de combater a criminalidade é a cooperação e não as intervenções militares. O diálogo deve ser a principal forma de cooperação com a Venezuela, com o Haiti, com Cuba – ele diz que é inadmissível que o país esta listado como um apoiador do terrorismo. O conflito com a Ucrânia não vai ser resolvido com mais militarismo e sim a partir de negociações realistas e levando em consideração as demandas de todas as partes. O uso desproporcional da força e ilegal são citados ao falar sobre o genocio Palestino. Lula faz uma fala emblemática de um líder que foi altamente aplaudido em seguida: “[...]absolutamente nada justifica o genociodio em curso em Gaza. Ali sobre toneladas de escombros estão enterradas dezenas de milhares de crianças e mulheres inocentes, ali também estão sepultados o direito internacional humanitário e o mito da superioridade ética do ocidente [...]”. Ele voltou a defender que a comunidade internacional se imponha e diz que infelizmente um único veto tenha impedido o fim do conflito imediato na ONU, além do absurdo do presidente Palestino ter sido impedido de estar na Assembleia por causa do visto negado pelos Estados Unidos.
Partindo para as partes finais do discurso, o presidente brasileiro vai entrar em uma das principais pautas de seu governo – especialmente porque a COP30 será no Brasil esse ano – a questão climática. Lula defende que os países cooperem pela puta ambiental e sigam os acordos para diminuição dos gases de efeito estufa, em especial os países desenvolvidos e ricos, pois enquanto países em desenvolvimento lutam contra outros problemas, os países ricos usufruem de terem tido a oportunidade de emissão de gases no passado e hoje podem aderir mais facilmente a essa luta. Defende a fomentação do desenvolvimento sustentável e fala sobre a importância dos países defenderem suas florestas e entrarem para a luta climática. Ele retorna a falar sobre os princípios multilaterais e que esses princípios devem ser a prioridade de todos. Lula lembra em seu discurso sobre a morte de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, e do Papa Francisco, e defende que os dois foram extremamente importantes para a luta contra o autoritarismo, a degradação ambiental e a desigualdade social, e se estivessem vivos, estariam naquele palco lutando pelos seus ideais. Lula termina dizendo que o futuro que o Brasil deslumbra é um futuro mais justo, e não de soma zero, defende que a voz do Sul Global deve ser respeitada e ouvida e fala sobre a missão da ONU de defender os ideais de sua formação. Agradece e termina dizendo que Deus abençoe a todos. O discurso foi extremamente focado em defender os ideais humanitários e de soberania, considerando o momento vivido pelo Brasil e outros inúmeros países, presentes e não presentes, estão passando.
Artigo escrito por Gabriela Henter, aluna extensionista da UFRJ, em parceria com o LABIC e o Pontão de Cultura da UFRJ.
BOLCHENEWS
Fique por dentro das últimas notícias
contato
© 2025. All rights reserved.
