Cuba aprova mudança de gênero sem cirurgia em nova lei
Nova lei em Cuba permite retificação de gênero por autodeclaração, sem cirurgia. País se destaca na América Latina em direitos LGBTQ+.
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8/4/20253 min ler


Cuba aprova mudança de gênero sem cirurgia: nova lei torna país referência em direitos LGBTQ+
A Assembleia Nacional do Poder Popular de Cuba aprovou no dia 18 de julho de 2025 a nova Lei do Registro Civil, que permite a retificação de gênero sem necessidade de cirurgia, laudo médico ou decisão judicial. A mudança representa um marco no reconhecimento legal da identidade trans no país e posiciona Cuba como uma das legislações mais avançadas do mundo nesse campo.
A nova legislação, que substitui normas anteriores e moderniza os procedimentos de registro, foi aprovada com 97,5% dos votos parlamentares e passou por um processo de escuta pública e participação social. Ela está inserida num contexto mais amplo de reformas iniciadas com o Código das Famílias (Lei 156/2022), que já havia reconhecido o casamento homoafetivo e outras formas de organização familiar.
Mudança de gênero por autodeclaração
Com a nova lei, pessoas maiores de 18 anos podem alterar o marcador de gênero em seus documentos por meio de simples solicitação, apresentando apenas a certidão de nascimento e um documento administrativo emitido por técnicos do CENESEX (Centro Nacional de Educação Sexual). Não há mais exigência de laudos psicológicos, perícias médicas ou realização de cirurgias.
A retificação pode ser feita no máximo duas vezes ao longo da vida, sendo que uma delas pode ter ocorrido ainda na infância. Essa limitação é inédita em legislações do tipo e foi alvo de críticas por ativistas trans, que defendem o direito à múltipla fluidez de identidade sem restrições estatais.
Inclusões e limites da nova lei
A nova legislação também prevê dispositivos para garantir a privacidade das informações de gênero, reconhecendo esses dados como sensíveis e restringindo seu acesso. Em relação a pessoas intersexo, define que o sexo legal será atribuído ao nascer com base nas características físicas, mas pode ser alterado posteriormente por solicitação.
Por outro lado, o texto exclui explicitamente a possibilidade de registro de identidades não binárias. Essa exclusão gerou reação de grupos LGBTQ+ locais, como o coletivo Translúcidos, que denunciam a permanência de um modelo binário e exigem reconhecimento legal de identidades dissidentes do sistema homem/mulher.
Digitalização e centralização
Outro ponto da lei é a digitalização completa dos registros civis, que agora passam a ser organizados em uma base centralizada sob responsabilidade do Ministério da Justiça. Essa mudança busca agilizar processos e reduzir fraudes, mas especialistas alertam para os desafios técnicos em um país que ainda enfrenta limitações significativas em infraestrutura digital, especialmente fora da capital.
Além disso, a nova norma cria um regime disciplinar para os registradores, estabelecendo mecanismos de controle que podem, segundo críticos, abrir margem para perseguições ou autoritarismo em determinadas situações políticas.
Comparações com Brasil e América Latina
A legislação cubana se alinha a países como Argentina, Chile e México, que já reconheceram o direito à mudança de gênero por autodeclaração. No Brasil, desde decisão do STF em 2018, é possível realizar esse procedimento diretamente em cartórios, sem exigência judicial, laudos ou cirurgia – inclusive sem limite de número de mudanças.
No entanto, diferentemente do modelo brasileiro, o caso cubano exige um documento intermediário emitido por instância estatal (o CENESEX), o que reforça a centralização do processo, ainda que não envolva avaliação médica. Também difere ao impor o limite de duas retificações ao longo da vida, medida ausente na legislação brasileira.
Uma conquista em meio ao bloqueio
Apesar das contradições e críticas, a nova Lei do Registro Civil representa um avanço significativo para os direitos da população trans e LGBTQ+ em Cuba. Em um cenário internacional marcado por retrocessos, censura e violência transfóbica — inclusive em países ditos democráticos —, a ilha socialista segue trilhando um caminho de reconhecimento jurídico e proteção à diversidade sexual.
A medida é fruto de décadas de luta popular e do trabalho contínuo de instituições como o CENESEX, liderado por Mariela Castro, filha de Raúl Castro, que se consolidou como uma referência na promoção da educação sexual progressista e dos direitos LGBTQ+ no país.
A revolução, mais uma vez, mostra que sua utopia inclui também o direito ao próprio corpo, ao próprio nome e à própria identidade.
BOLCHENEWS
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