Governo incinera 150 mil pés de maconha em Sertânia.
Entenda como essa matéria orgânica poderia afetar positivamente o sistema de saúde Brasileiro.
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7/31/20253 min ler


Governo incinera 150 mil pés de maconha: Estado destrói milhões em insumos medicinais em operação repressiva em Sertânia (PE)
Na manhã do dia 22 de julho de 2025, uma operação conjunta da Polícia Federal e da Polícia Militar de Pernambuco (3º BPM – Arcoverde) resultou na erradicação de aproximadamente 150 mil pés de maconha na zona rural de Sertânia, no Sertão pernambucano. A ação, que mobilizou cerca de 100 agentes, visava combater o tráfico de drogas na região.
Segundo estimativas das autoridades, caso a droga tivesse sido colhida, prensada e preparada para o consumo, poderia gerar cerca de 50 toneladas de maconha. As plantações foram destruídas no próprio local, seguindo os protocolos operacionais estabelecidos. Parte do material foi recolhida para ser usada como prova nas investigações em andamento. Durante a operação, também foram apreendidos oito cartuchos de munição calibre .32, três carregadores de rádio comunicador, cadernos com anotações e cartões de crédito, que podem estar ligados à estrutura financeira dos grupos criminosos responsáveis pela plantação.
De planta criminalizada a recurso estratégico: o que foi queimado?
A estimativa média de produção por pé de cannabis em cultivos não industriais varia entre 150g e 500g por planta. Considerando uma média conservadora de 200g, foram destruídas cerca de 30 toneladas de planta in natura — com potencial para gerar entre 3 e 6 toneladas de flores e extratos farmacêuticos úteis para o setor medicinal.
Esse volume equivale a:
Até 12 milhões de cigarros de maconha (0,5g por unidade);
Mais de 200 mil frascos de óleo medicinal de CBD (30ml), com rendimento de 25% por kg de flor pura;
Centenas de milhares de cápsulas, cremes e extratos terapêuticos usados no tratamento de epilepsia, Parkinson, dores crônicas e distúrbios neurológicos diversos.
Com base nos preços do mercado legal brasileiro de cannabis medicinal — entre R$ 150 e R$ 500 por produto final —, o prejuízo direto estimado chega entre R$ 30 e R$ 100 milhões.
O escândalo invisível: dados do setor escancam a contradição
Segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis Medicinal (ABICANN), o Brasil importou apenas 3 toneladas de cannabis medicinal em 2024, enquanto a demanda oficial supera os 200 mil pacientes com prescrição. O que foi queimado equivale a duas vezes a quantidade importada num ano inteiro, em um país que não produz nem regula sua própria cadeia de cannabis terapêutica.
Enquanto famílias recorrem à judicialização para acessar remédios caros, o Estado destrói, sob aplausos oficiais, matéria-prima suficiente para abastecer milhares de pacientes, além de gerar empregos, pesquisa científica, fortalecer a agricultura camponesa e aumentar a autonomia sanitária nacional.
A política da repressão é a política do atraso
A destruição dos 150 mil pés não é um erro técnico, mas uma decisão política. A política de guerra às drogas — herança da geopolítica estadunidense pós-guerra, sustentada por racismo estrutural — segue funcionando como mecanismo de controle social sobre pobres e populações periféricas.
Enquanto países como Uruguai, Marrocos, Colômbia, África do Sul e estados dos EUA avançam na legalização, regulação e desenvolvimento nacional da cannabis, o Brasil segue no caminho da repressão e destruição.
A guerra às drogas é guerra ao povo
A repressão tem cor, classe e endereço. Os principais alvos são jovens negros, moradores das periferias urbanas e populações camponesas. Enquanto isso, grandes laboratórios e importadoras lucram com a dependência externa, vendendo produtos inacessíveis para a maioria.
Ao queimar essa quantidade de maconha, o Estado brasileiro reforça seu papel como gestor dos interesses coloniais, recusando a nacionalização do conhecimento, a democratização da cura e a quebra do ciclo da dependência econômica.
BOLCHENEWS
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