O AVÔ DE GEORGE W. BUSH AJUDOU HITLER A CHEGAR AO PODER?

📂 Documentos secretos revelam uma história esquecida (ou abafada) da Segunda Guerra Mundial

INTERNACIONALECONOMIAPOLÍTICASAULO CORLEONE

8/6/20256 min ler

Rumores sobre um elo entre a família Bush e a máquina de guerra nazista circulam há décadas. O Jornal Bolchenews relembra nesse artigo como os desdobramentos de eventos que culminaram em ações com base na Lei de Comércio com o Inimigo ainda atingiram o presidente dos EUA da época.

O avô de George W. Bush, o falecido senador norte-americano Prescott Bush, foi diretor e acionista de empresas que lucraram com seus acordos com os financiadores do regime nazista na Alemanha.

Prescott Bush, com 1,93 m e voz marcante, era o patriarca da dinastia Bush. Estudou em Yale, foi membro da sociedade secreta Skull and Bones, lutou na Primeira Guerra e casou-se com Dorothy Walker, filha do banqueiro George Herbert Walker, que o ajudou a entrar no mercado financeiro em Nova York com Averill Harriman, herdeiro de uma fortuna ferroviária.

O Bolchenews obteve confirmação, a partir de pesquisa nos Arquivos Nacionais dos EUA, de que uma empresa da qual Prescott Bush era diretor esteve envolvida com os arquitetos financeiros do nazismo.

Suas atividades empresariais, que continuaram até os ativos da empresa serem confiscados em 1942 sob a Lei de Comércio com o Inimigo, levaram, mais de 60 anos depois, a uma ação civil na Alemanha contra a família Bush por dois ex-prisioneiros de Auschwitz.

As evidências levaram um ex-promotor de crimes de guerra nazistas dos EUA a defender que os atos do senador poderiam ter sido base para acusação por colaborar com o inimigo.

O debate sobre a conduta de Prescott Bush circulava discretamente há algum tempo. Muitos rumores sobre uma suposta conexão “Bush/Nazismo” povoaram a internet. Mas os documentos, muitos dos quais só foram desclassificados em 2003, mostram que mesmo depois da entrada dos EUA na Segunda Guerra, quando já se conheciam os planos e políticas nazistas, Prescott Bush trabalhou para e lucrou com empresas diretamente ligadas aos grupos que financiaram a ascensão de Hitler.. Provavelmente os lucros dessas operações ajudaram a construir a fortuna e a dinastia política da família Bush.

Surpreendentemente, os negócios de Bush com a Alemanha receberam pouca atenção pública, em parte por causa da natureza sigilosa dos documentos. No entanto, a ação judicial bilionária movida por sobreviventes do Holocausto e o lançamento iminente de três livros sobre o tema ameaçavam transformar esse passado empresarial de Prescott Bush num problema para seu neto George W., então em campanha pela reeleição.

Embora não haja indícios de que Prescott Bush simpatizasse com o nazismo, os documentos revelam que a empresa para a qual ele trabalhava, Brown Brothers Harriman (BBH), atuava como base nos EUA para os negócios de Fritz Thyssen, industrial alemão que financiou Hitler nos anos 1930 antes de romper com ele no fim da década. Existem evidências de que Bush foi diretor da Union Banking Corporation (UBC), sediada em Nova York, que representava os interesses de Thyssen nos EUA. Ele continuou no cargo mesmo depois de os EUA entrarem na guerra.

Bush também integrava o conselho de ao menos uma das empresas que compunham uma rede multinacional de empresas de fachada, permitindo a movimentação global dos ativos de Thyssen.

Thyssen, dono da maior empresa de aço e carvão da Alemanha, enriqueceu com o rearmamento promovido por Hitler entre as duas guerras. Um dos pilares da rede internacional de Thyssen era o UBC, que operava exclusivamente para ele e era de propriedade de um banco controlado por Thyssen na Holanda.

Mais comprometedoras são as ligações de Bush com a Consolidated Silesian Steel Company (CSSC), sediada na região mineral da Silésia, entre Alemanha e Polônia. Durante a guerra, a empresa usou trabalho escravo de prisioneiros dos campos de concentração, inclusive Auschwitz.

Embora a propriedade da CSSC tenha mudado várias vezes nos anos 1930, documentos desclassificados dos Arquivos Nacionais dos EUA ligam Bush à empresa. Não está claro, porém, se ele e o UBC ainda estavam envolvidos quando os ativos americanos de Thyssen foram confiscados em 1942.

Três conjuntos de arquivos detalham o envolvimento de Prescott Bush:

  1. Papéis de Harriman (Biblioteca do Congresso): mostram Bush como diretor e acionista de várias empresas ligadas a Thyssen.

  2. Ordem de Confisco nº 248 (Arquivos Nacionais): em 20 de outubro de 1942, o governo dos EUA confiscou os ativos da UBC e suas afiliadas — incluindo a Holland-American Trading Corporation e a Seamless Steel Equipment Corporation.

  3. Arquivos sobre a IG Farben (também nos Arquivos Nacionais): empresa química alemã que usava trabalho escravo e foi processada por crimes de guerra.

Um relatório do Escritório de Propriedades de Inimigos declarava que, desde 1939, “essas propriedades (de aço e mineração) estavam em posse do governo alemão e ajudaram consideravelmente no esforço de guerra do país.”

Bush ajudou a fundar o UBC, sendo um dos sete diretores e dono de uma ação no valor de US$ 125.

O banco foi criado para atender os Thyssen nos EUA, uma das famílias industriais mais influentes da Alemanha. Fritz Thyssen, herdeiro do império, ficou fascinado por Hitler após ouvir um discurso seu e passou a financiá-lo, comprando inclusive o Palácio Barlow, em Munique, que virou a sede do partido nazista.

No fim dos anos 1930, o BBH e o UBC enviaram milhões de dólares em ouro, aço, carvão, combustíveis e títulos do Tesouro americano à Alemanha, alimentando o rearmamento nazista.

Entre 1931 e 1933, o UBC comprou mais de US$ 8 milhões em ouro. Após sua fundação, transferiu US$ 2 milhões para contas do BBH.

Thyssen fugiu da Alemanha em 1941 após romper com Hitler, mas foi capturado na França e passou o resto da guerra detido.

Embora legal até certo ponto manter negócios com Thyssen nos anos 1930, tudo mudou após a invasão da Polônia em 1939. Mesmo assim, os EUA só entraram oficialmente na guerra em dezembro de 1941. A situação se agravou em julho de 1942, quando o New York Herald-Tribune publicou a matéria: “O anjo de Hitler tem US$ 3 milhões em banco dos EUA”. Isso levou a uma investigação da Comissão de Propriedades de Inimigos (APC).

O relatório mostrou que os diretores, incluindo Prescott Bush, não eram os verdadeiros donos das ações, mas agiam como representantes do Bank voor Handel, da Holanda, controlado pelos Thyssen.

Em vez de liquidar os ativos, o UBC foi mantido intacto e os bens devolvidos aos acionistas americanos após a guerra. Há alegações de que Bush vendeu sua parte por US$ 1,5 milhão, mas não há provas documentais.

O elo mais intrigante permanece: a conexão entre Prescott Bush, Thyssen, CSSC e Auschwitz.

O parceiro de Thyssen na United Steel Works, Friedrich Flick, também usava mão de obra escrava nos campos de concentração. Matéria do New York Times de 1934 relatava que Flick tinha dois terços da CSSC, e “interesses americanos” o restante.

Documentos mostram que o BBH teve envolvimento direto com a CSSC em 1934-35, e que Foster Dulles, famoso advogado e futuro secretário de Estado, estava envolvido na proteção legal dos acionistas americanos.

Sobreviventes do Holocausto processaram o governo dos EUA e a família Bush por US$ 40 bilhões, alegando que lucraram com trabalho escravo em Auschwitz.

Os advogados também levaram a questão à Corte de Haia, questionando se a “soberania estatal” justifica recusar ouvir o caso.

A ação se baseia numa ordem executiva de Roosevelt de 22 de janeiro de 1944, exigindo medidas para salvar os judeus da Europa. Os advogados alegam que ela foi ignorada devido à pressão de grandes empresas americanas, incluindo o BBH.

John Loftus, ex-promotor de crimes de guerra e atual comentarista de segurança nos EUA, afirma que Prescott Bush deveria ter sido processado por colaborar com o inimigo.

Para Loftus, o mais importante não é tanto a culpa direta de Bush, mas o encobrimento de décadas, e o que isso revela sobre os mecanismos de financiamento do nazismo e sua ligação com os EUA.

Por fim, John Buchanan, jornalista que divulgou os documentos em 2003, reforça a acusação em seu livro Fixing America, mesmo após sua credibilidade ter sido abalada por problemas pessoais.

A família Bush geralmente se recusa a comentar. Uma biografia autorizada de Prescott Bush aborda o tema em menos de duas páginas, tratando-o como um mal-entendido.

A Anti-Defamation League (ADL) defendeu Prescott Bush, classificando os rumores como politicamente motivados e sem fundamento. Ainda assim, outras publicações judaicas levantaram as suspeitas em detalhes.

Mais de 60 anos depois, o passado financeiro de Prescott Bush continua a lançar sombras — não apenas sobre sua família, mas sobre a história das relações entre o capitalismo americano e o nazismo.

(boa parte das informações foi traduzida de um artigo escrito pelos jornalistas Ben Aris em Berlim e Duncan Campbell em Washington)