Trump envia navios de guerra para Venezuela usando a desculpa de combate às dr0g4s e ao n4rcotráf1co

Três destróieres de mísseis guiados “U.S. Aegis”, com cerca de 4.000 marinheiros e fuzileiros navais a bordo, além de aviões espiões P-8 e um submarino de ataque, foram enviados para a costa da Venezuela

SAULO CORLEONEINTERNACIONALPOLÍTICA

8/20/20256 min ler

O que se apresenta nos veículos de mídia tradicionais como uma nobre cruzada contra o narcotráfico na Venezuela é, na verdade, um movimento calculado no tabuleiro geopolítico, com peças que se movem muito além das fronteiras venezuelanas e que tocam diretamente o coração do Brasil. Sob a ótica marxista, vamos analisar os verdadeiros interesses por trás do envio de navios de guerra e tropas, a manipulação da narrativa e o impacto sísmico que essa agressão representa para a nossa soberania e para a paz regional.

Não se enganem: a história nos ensina que, por trás de cada "missão humanitária" ou "combate ao crime organizado" orquestrado pelas potências hegemônicas, há sempre um interesse econômico e estratégico a ser defendido. E a Venezuela, com suas vastas reservas de petróleo, é um prato cheio para a voracidade do capital global.

A Frota de Guerra no Caribe: Narcotráfico ou Petróleo?

As notícias recentes soam como um tambor de guerra no Caribe: três destróieres de mísseis guiados U.S. Aegis, com cerca de 4.000 marinheiros e fuzileiros navais a bordo, além de aviões espiões P-8 e um submarino de ataque, foram enviados para a costa da Venezuela. O pretexto? Combater os famigerados cartéis de drogas da América Latina. Mas, como bem sabemos, no palco da geopolítica, as cortinas da narrativa oficial muitas vezes escondem o verdadeiro espetáculo.

Nicolás Maduro, o presidente venezuelano, não tardou a reagir, afirmando que a Venezuela defenderá seus mares, céus e terras, e denunciando a "estranha e bizarra ameaça de um império em declínio". E ele não está errado. A designação de cartéis mexicanos e do grupo criminoso venezuelano Tren de Aragua como organizações terroristas globais pela administração Trump pode parecer uma medida de segurança legítima, mas, sob a lupa marxista, revela-se um conveniente pretexto para justificar intervenções militares e econômicas. É a velha tática de demonizar o inimigo para legitimar a agressão.

Como apontou Breno Altman, do Opera Mundi, a presença militar dos EUA no sul do Mar do Caribe é a maior desde 2019, e o mais intrigante é que o eixo escolhido para essa operação coincide exatamente com a principal rota de exportação de petróleo da Venezuela. Coincidência? Dificilmente. Isso não é um acaso, mas sim a manifestação clara dos interesses econômicos que movem a máquina imperialista. O combate ao narcotráfico, nesse contexto, é apenas a maquiagem para a verdadeira intenção: controlar os recursos energéticos de uma nação soberana e, por tabela, minar qualquer projeto de autonomia na região.

É a lógica do capital em sua forma mais brutal: a busca incessante por mercados, recursos e zonas de influência, mesmo que isso signifique desestabilizar governos, fomentar conflitos e sacrificar vidas. A Venezuela, com suas imensas reservas de petróleo, é um alvo óbvio para essa sanha imperialista, que não hesita em usar a força militar para garantir seus lucros e sua hegemonia global.

A Caatinga como Palco: Treinamentos Militares e a Subordinação Silenciosa

Enquanto a atenção do mundo se volta para a Venezuela, um outro movimento, talvez menos estrondoso, mas igualmente preocupante, se desenrola em solo brasileiro: os treinamentos militares conjuntos entre Brasil e Estados Unidos. A Operação CORE 2025, prevista para novembro na Caatinga pernambucana, é o mais recente capítulo de um programa de cooperação militar que, sob a superfície da "parceria", esconde uma perigosa subordinação.

O objetivo declarado é preparar militares brasileiros para atuar sob diretrizes comuns ao exército norte-americano, com o uso de tecnologias e táticas de guerra irregular e eletrônica. Mas qual o custo real dessa "modernização"? Cabe um alerta: a padronização de doutrinas militares e o acesso a armamentos avançados via programas como o FMS (Foreign Military Sales) podem, na prática, transformar as forças armadas de países periféricos em meros apêndices da máquina de guerra imperialista. Isso não é cooperação, é integração subordinada, que mina a autonomia estratégica e a capacidade de defesa genuína de uma nação.

É fundamental questionar: por que o Exército dos EUA planeja se "estabelecer" no Brasil até 2028, através de operações como a CORE 25 ? A resposta, para o marxismo, é clara: a América Latina, e o Brasil em particular, com sua imensa riqueza natural e posição geopolítica estratégica, é um campo fértil para a expansão e consolidação do poder imperialista. Treinamentos conjuntos, nesse sentido, são mais do que exercícios; são mecanismos de penetração e controle, que visam garantir a lealdade e a subserviência de elites militares locais aos ditames de Washington.

O Dilema Brasileiro: Entre a Cautela e a Subordinação

Diante da escalada da tensão na Venezuela e da crescente presença militar dos EUA na região, o Brasil se encontra em uma encruzilhada delicada. O governo brasileiro, embora monitore a movimentação militar dos EUA com preocupação, ainda não tem uma posição oficial clara sobre como agirá. Há um temor palpável no governo Lula de uma ação militar dos EUA contra a Venezuela, e integrantes do governo veem o movimento como uma provocação e possível preparação para intervenção.

Essa cautela, embora compreensível, revela a fragilidade da autonomia brasileira diante da pressão imperialista. A ausência de um posicionamento firme do Itamaraty sobre o deslocamento das tropas norte-americanas, como criticado por Breno Altman no Opera Mundi, é um sintoma de uma diplomacia que, por vezes, hesita em confrontar os interesses das grandes potências. A dependência econômica e a busca por investimentos estrangeiros muitas vezes levam a uma postura de complacência, que acaba por minar a capacidade do Brasil de atuar como um ator independente e soberano na cena internacional.

O possível cancelamento do programa de treinamento militar conjunto CORE com os EUA, devido a restrições de verba, pode ser um sinal de um afastamento ou, no mínimo, de uma cautela na relação militar entre os dois países. No entanto, é preciso ir além da superfície. A verdadeira autonomia não se constrói apenas com o cancelamento de um ou outro exercício militar, mas com uma política externa e de defesa que priorize os interesses nacionais e regionais, e que se posicione de forma inequívoca contra qualquer forma de imperialismo e intervenção.

O Imperialismo em Nova Roupa: Interesses e Manipulação Estadunidense

A crítica ao imperialismo, para a análise marxista, não é um conceito ultrapassado, é mais urgente do que nunca. As novas formas de dominação, embora não se apresentem com a mesma roupagem colonial do passado, são igualmente eficazes em garantir a exploração e a subordinação de nações periféricas aos centros do capital. A Teoria Marxista da Dependência é uma ferramenta essencial para compreender como o capitalismo periférico latino-americano se articula com o imperialismo, perpetuando ciclos de dependência e subdesenvolvimento.

Os esforços de Washington para remover o governo venezuelano, sob o pretexto de combater o narcotráfico, são um exemplo clássico de golpe imperialista . A narrativa de "narcoterrorismo" é uma manipulação descarada, um biombo ideológico para justificar a intervenção e proteger os interesses econômicos e geopolíticos dos EUA na região. A Venezuela, com suas vastas reservas de petróleo, é um ativo estratégico fundamental para o capitalismo global, e a crise no país, para o imperialismo, é uma oportunidade de ouro para reconfigurar o tabuleiro geopolítico e garantir o acesso a esses recursos. Essa arma pode ser usada contra o Brasil, já que há indícios do governo Trump incluir organizações criminosas do Brasil nessa lista de organizações terroristas.

Não se trata apenas de petróleo. Trata-se de manter a hegemonia regional, de impedir a ascensão de projetos autônomos e de garantir que a América Latina continue a ser um quintal dócil aos interesses de Washington. A geopolítica da energia, nesse contexto, é um motor poderoso que aproxima e afasta nações, sempre em função dos ditames do capital. A manipulação da opinião pública, a desinformação e a demonização de líderes e governos são táticas recorrentes do imperialismo para pavimentar o caminho para suas intervenções.

A Luta Continua

O cenário que se desenha no Caribe e no Brasil é um lembrete contundente de que o imperialismo não é uma relíquia do passado, mas uma força viva e atuante, que se adapta e se reinventa para garantir a perpetuação de seus interesses. A agressão à Venezuela, sob o manto do combate ao narcotráfico, e a sutil, mas perigosa, subordinação militar do Brasil são faces da mesma moeda: a busca incessante por controle e hegemonia.

Para nós, que nos guiamos pela análise marxista, a tarefa é clara: desmascarar as narrativas manipuladoras, denunciar os interesses ocultos e fortalecer a solidariedade entre os povos. A luta pela soberania e pela autodeterminação não é apenas uma questão de fronteiras, mas de classes. É a luta contra a exploração, a opressão e a barbárie imperialista. Que este esboço sirva como um chamado à reflexão e à ação, para que a sombra da águia não se estenda indefinidamente sobre nossa América Latina.